
O Brasil tem ajustado sua estratégia de política externa em meio às mudanças no cenário global, especialmente com o retorno da influência de Donald Trump nos Estados Unidos. O governo Lula, que antes priorizava a reforma dos organismos multilaterais, agora redireciona esforços para a manutenção do próprio sistema internacional, que vem sendo fragilizado pelo protecionismo e pelo unilateralismo norte-americano.
Fontes diplomáticas em Brasília indicam que, anteriormente, o foco era reformar o sistema multilateral para torná-lo mais inclusivo, favorecendo nações emergentes. Agora, a preocupação principal passa a ser garantir a própria sobrevivência desse modelo, construído no pós-Segunda Guerra Mundial e na Guerra Fria.
A histórica reivindicação do Brasil por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU ficou em segundo plano. Em vez disso, a prioridade é impedir que o sistema multilateral se desmonte por completo diante das tensões comerciais e geopolíticas.
O chanceler Mauro Vieira destacou, em um discurso na Fundação Getulio Vargas (FGV), que o aumento das desigualdades globais tem provocado reações opostas: de um lado, reforça a necessidade de reformar a ordem mundial, mas, por outro, incentiva movimentos de desmonte dessa mesma estrutura.
A política comercial dos EUA sob Trump, marcada por tarifas protecionistas e intimidações econômicas, tem colocado em risco a estabilidade do comércio global. Esse cenário exige do Brasil uma abordagem cautelosa para evitar impactos negativos em setores estratégicos como a exportação de aço e etanol.
O Itamaraty busca fortalecer parcerias com o Brics e o G20 para conter a ascensão do unilateralismo norte-americano. A diplomacia brasileira trabalha para incluir uma condenação ao unilateralismo no texto final da cúpula do Brics, que ocorrerá no Rio de Janeiro em julho.
Além disso, o Brasil tenta coordenar esforços entre países emergentes para garantir que a COP30, conferência climática da ONU que será realizada em Belém, tenha um posicionamento unificado sobre financiamento climático. A meta é mitigar os efeitos das mudanças climáticas sem comprometer o desenvolvimento econômico dos países do bloco.
Embora as medidas protecionistas dos EUA sejam um desafio para o Brasil, diplomatas acreditam que a estratégia de Trump pode ser temporária, uma vez que seu mandato não permite reeleição. Há expectativas de que ele recue em algumas decisões, como a taxação sobre o aço e o etanol brasileiros.
O que não deve mudar, no entanto, é a inclinação de Trump para negociações bilaterais, em detrimento do multilateralismo. Esse fator mantém o Brasil em alerta para futuras instabilidades comerciais.
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